quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O interrogatório de Friedrich Jecklen

O interrogatório de Friedrich Jecklen

Em seu interrogatório de 14 de dezembro de 1945, (1) minutas (em que) o Alto Líder da SS e Polícia Jeckeln detalhou as operações que foram atribuídas à estrutura da Solução Final no Leste:

"Os fuzilamentos foram executados sob a direção do coronel Dr. Lange, comandante do SD e da Gestapo na Letônia. Knecht estava encarregado da segurança nos locais dos fuzilamentos. (2) Eu, Jeckeln, tomei parte nos fuzilamentos em 3 ocasiões; O mesmo vale para Lange, Knecht, Lohse e tenente-coronel Osis, comandante da polícia de trafego em Riga.

P: Quem realizou os fuzilamentos?

R: Dez ou doze soldados alemães do SD.

P: Qual era o procedimento?

R: Todos os judeus iam a pé do gueto em Riga para o local de fuzilamento. Próximo às valas, eles tinham que depositar seus casacos, que eram lavados, separados e enviados de volta à Alemanha. Judeus - homens, mulheres e crianças - passavam por um cordão policial em seu caminho para as valas, onde eram fuzilados por
soldados alemães.

P: Você reportou a execução das ordens para Himmler?

R: Sim, de fato. Eu notifique Himmler por telefone que o gueto em Riga havia sido liquidado. E eu estava em Lötzen, Prússia Oriental, em Dezembro de 1941, eu relatei pessoalmente também. (3)Himmler estava satisfeito com os resultados. Ele disse que mais comboios de judeus estavam marcados para chegar na Letônia, e estes seria
liquidados por mim também.

P: Detalhe mais.

R: No final de Janeiro de 1942, (4) eu estava no QG de Himmler em Lötzen, Prússia Oriental, para discutir assuntos organizacionais a respeito das legiões SS letãs. Lá Himmler me informou que comboios judeus adicionais estavam marcados para chegar vindos do Reich e de outros países. O ponto de destino seria o campo de concentração de Salaspils, que se situava a dois quilômetros (uma milha e um quarto de milha) de Riga na direção de Dünaburg. Himmler disse que ele ainda não havia determinado como eles seriam exterminados: Se eles seriam fuzilados a bordo de seus comboios ou em Salaspils, ou mesmo se os levariam para algum lugar no pântano.

P: Como o assunto foi resolvido?

R: Era minha opinião que o fuzilamento seria uma morte mais simples e rápida. Himmler disse que iria pensar sobre isto e mandaria ordens posteriores através de Heydrich.


P: De quais países os judeus em Salaspils eram trazidos?

R: Judeus eram trazidos da Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Tchecoslováquia e de outros países ocupados para o campo de Salaspils. Fornecer uma conta precisa dos judeus em Salapils seria difícil. Em qualquer caso, todos os judeus do campo foram
exterminados. Mas eu gostaria de fazer uma declaração adicional enquanto estamos neste tópico.

P: Que declaração você gostaria de fazer?

R: Eu gostaria de dizer para os registros que Göring compartilha a culpa pela liquidação dos comboios judeus que chegavam de outros países. Na primeira metade de Fevereiro de 1942 eu recebi uma carta de Heydrich. Nesta carta ele escreveu que o Reichmarshall Göring havia se envolvido pessoalmente na questão dos judeus, e que judeus estavam agora sendo enviados para o Leste para extermínio somente com a aprovação de Göring.

P: Isto não diminui sua culpa. Descreva seu papel no extermínio dos judeus em Salaspils.

R: Eu já disse que eu discuti o extermínio dos judeus em Salaspils com Himmler em Lötzen. Somente isto já faz de mim um acessório para este crime. Além disto, judeus eram fuzilados no campo de Salaspils por forças recrutadas do meu SD e unidades de segurança da polícia. O comandante do SD e Gestapo na Letônia, tenente-coronel Dr. Lange, era diretamente encarregado pelos fuzilamentos. Outros oficiais que se reportavam a mim nos fuzilamentos no campo eram o comandante da SD e Gestapo nos Estados Bálticos, major-general Jost; Coronel de polícia Pifrader; e coronel de polícia Fuchs.

P: Especificamente, o que eles reportavam a você?

R: Eles reportavam que dois a três comboios de judeus chegariam por semana, todos destinados ao extermínio.

P: Então o número de judeus fuzilados em Salaspils pode ser conhecido, isto não é correto?

R: Sim, é claro. Eu posso fornecer números aproximados. O primeiro comboio judeu chegou em Salaspils em Novembro de 1941. Então, na primeira metade de 1942, comboios chegaram em intervalos regulares. Acredito que em Novembro de 1941, não mais que três comboios chegaram no total, mas durante os próximos sete mêses, de Dezembro
de 1941 a Junho de 1942, de oito a doze comboios chegaram cada mês. No total, em oito mêses, no mínimo cinquenta e cinco e não mais que oitenta e sete comboios judeus chegaram no campo. Dado que cada comboio carregava mil homens, isto perfaz um total entre 55 mil a 87 mil judeus exterminados no campo de Salaspils.

P: Estes números soam baixos. Você está dizendo a verdade?

R: Eu não tenho outros números mais exatos. Deve ser adicionado, contudo, que antes de minha chegada em Riga, um número significante de judeus em Ostland e na Rutênia Branca foram exterminados. Eu fui informado deste fato. (5)

P: Por quem, especificamente?

R: Stahlecker; Prützmann; Lange; Major General Schröder, chefe de polícia e da SS na Letônia; Major General Möller, chefe de polícia e da SS na Estônia; e Major General Wysocki, chefe de polícia e da SS
na Lituânia.

P: Seja específico. O que eles reportaram?

R: Schröder relatou-me que além dos judeus que foram exterminados no gueto de Riga, um adicional de 70,000 a 100,000 judeus foram exterminados na Letônia. Dr. Lange assistiu diretamente estes fuzilamentos. Möller relatou que na Estônia estava tudo em ordem no que dizia respeito a questão dos judeus. A população judaica estoniana era insignificante, de todo, cêrca de 3,000 a 5,000 judeus, e estes números foram reduzidos a nada. A maior parte foi exterminada em Reval. Wysocki relatou que 100,000 a 200,000 judeus foram exterminados - fuzilados - na Lituânia, sob ordens de
Stahlecker. Na Lituânia, os extermínios dos judeus foram assistidos pelo comandante da SD e Gestapo, tenente-coronel de polícia Jäger. Posteriormente, Jäger me disse que ele havia se tornado neurótico como resultado destes fuzilamentos. Jäger foi aposentado e deixou seu cargo para tratamento. No total, o número de judeus exterminados nas ações no Báltico oriental alcançou algo na vizinhança de 190,500
a 253,000. (6)

(1) Minutas do interrogatório de Jecklen em 14 de Dezembro de 1945 (Major Zwetajew, interrogador; Sargento Suur, intérprete), pp. 8 - 13, Arquivos Históricos do Estado, Riga.

(2) Max Knecht era o comandante da polícia municipal na Letônia.

(3) I.e., do quartel-general "Hochwald" de Himmler em Lötzen.

(4) I.e., 25 de Janeiro de 1942, 11:30 - 13:00 hs; per RFSS appointments book, NS 19DC/vorl. 12, Bundesarchiv, Koblenz.

No mesmo dia Himmler fêz a seguinte anotação, re: Sua conversa telefônica "do Wolfsschanze 17 [isto é, 17h00] SS Gr.F. Heydrich Praga: Judeus em campos de concentração"NS 19/neu 1439 Bundesarchiv, Koblenz.

(5) Jeckeln foi promovido em 31 de outubro de 1941 a Alto Líder da SS e da Polícia para o Norte da Rússia (H.Q. Riga); registro funcional de Jeckeln, Centro de Documentação de Berlim. Uma segunda promoção para o nível de Líder da Seção Superior da SS, "Ostland", ocorreu em 11 de dezembro de 1941 (Bundesarchiv, Koblenz [NS 19
neu/2846]).

(6) Em resposta ao telegrama número 1331 da Polícia de Segurança de Riga (datado de 6 de fevereiro de 1942), o SS-Standartenführer Karl Jäger reportou de Kovno o seguinte , em 9 de fevereiro de 1942: "Re:execuções até 1° de fevereiro de 1942, pelo Einsatzkommando 3A:Judeus 136.421. Total 138.272, destes, mulheres: 55.556; crianças: 34.464" ((Institut für Zeitgeschichte 3253/63 Fb 76 [a]).

Fonte(inglês): http://www.einsatzgruppenarchives.com/jeckeln.html
Tradução: Antonio Freire

Salaspils - Memorial as Vítimas do Holocausto(Letônia)








http://www.galenfrysinger.com/latvia_salaspils.htm

Publicado também em: http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6352

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