domingo, 26 de dezembro de 2010

Richard Widmann, Harry Elmer Barnes e a Operação Barbarossa

Operação Barbarossa.
Alemanha avança sobre a URSS
O jornal Incovenient History de Richard Widmann alega estar promovendo a paz na tradição do historiador revisionista Harry Elmer Barnes (ver aqui). Entretanto, o grande abismo entre as visões da escola de Barnes e os colunistas do Inconvenient History em respeito à invasão da Alemanha pela URSS, sugerem que o jornal está explorando o nome de Barnes sem aderir a suas visões atuais.

Como muitos negadores atuais, o Incovenient History de Joseph Bishop aqui e Wilfied Heink (aka neurigig) aqui engole a história de Suvorov[1] que a Barbarossa foi uma ação de autodefesa por parte dos alemãess. Entretanto, em Perpetual War for Perpetual Peace (1953), editado por Barnes, F. R. Sanborn escreveu o seguinte:
Na metade de janeiro de 1941, outro fio mais fatal foi entrelaçado dentro do estampado. O Departamento de Estado dos EUA, em instrução específica do Sr. Roosevelt, alertou (138) o embaixador russo, Sr. Constantine Oumansky, (139) do contemplado ataque alemão, e estes alertas foram mais tarde repetidos. (140) Em início de fevereiro de 1941, o movimento ao leste das tropas alemãs era bem conhecido. (141) Tudo apontava em direção de uma extensão da guerra com um ataque alemão à Rússia, mas o poder político anglo-americano teve êxito em atrasá-lo por cinco semanas. (142) O grande custo desse sacríficio, feito a fim de obter um pequeno atraso em benefício da Rússia Soviética, foi a perda da Iugoslávia, Grécia e Creta, a paralização da Frota Britânica do Mediterrâneo,(143) e a derrota britânica na Líbia.(144) Nas intrigas diplomáticas na Grécia e na Iugoslávia, os norte-americanos (145) conseguiram uma grande e substancial peça bem-sucedida em releção à oponente Alemanha. Mais tarde, a medida que se aproximava o início do ataque à Rússia, o Sr. Churchill meditou sobre como sua política deveria ser e concluiu que ele deve "dar todo encorajamento e toda ajuda que podemos fornecer." Ele telegrafou isto para o Sr. Roosevelt,(146) que replicou no sentido de uma carta branca - ele publicamente endossaria "qualquer anúncio que o Primeiro Ministro possa fazer tornando acessível a Rússia como uma aliada."
Além disso, Barnes e seus colegas rejeitaram a visão dominante nos EUA do início dos anos de 1950 na Guerra Fria: de que Stalin estava planejando uma invasão à Europa ocidental. Lew Rockwell ressaltou este fato neste artigo de 1968:
Voltando especificamente ao comunismo, Barnes corta direto para o coração do problema: um ataque militar da União Soviética aos Estados Unidos era muito improvável (a menos que "provocado como uma medida de guerra preventiva"), porque "o programa soviético para comunizar o mundo não é baseado num plano de conquista militar. É fundamentado em propaganda, infiltração e intriga." Tais revoluções ideológicas nunca foram extirpadas por força militar. A resposta verdadeira ao comunismo, então, é fortalecer a ideologia e instituições norte-americanas: para manter a liberdade e prosperidade norte-americana.
Rockwell ainda mais demonstra que Barnes fez uma distinção entre "vasto revisionismo" e "estreito revisionismo", e rejeitou o último:
Um revisionista estreito, por conta de sua preocupação predominante com a tragédia alemã, tem portanto conseguido sozinho se atrapalhar num verdadeiro emaranhado de contradições. Começando por se dedicar à paz, ele se tornou advogado da guerra total (contra a União Soviética)...

[...]

Assim, o estreito revisionista, no curso de distorcer o foco de sua preocupação, terminou por essencialmente abandonar o revisionismo completamente.
O jornal de Widmann pode pretender promover um revisionismo amplo mas seu relato datado está fortemente ligado ao campo estreito que era alienígena a Barnes em vários aspectos. Widmann pode desejar refletir sobre se ele está realmente seguindo Barnes ou apenas o usando como uma folha de parreira[2] para apologia nazista.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2009/12/richard-widmann-harry-elmer-barnes-and.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

[1] Viktor Suvorov:  propagandista de origem russa, que lamentavelmente vem sendo divulgado por 'livrarias do Brasil' como "coisa séria" por se tratar de propaganda anti-comunista do tempo da Guerra Fria, lançou livros "revisionistas" ainda na década de oitenta onde alega que Hitler atacou a URSS numa guerra preventiva pois havia planejamento de ataque à Alemanha por parte da URSS sob o comando de Stalin. O impacto retórico da "tese" do Suvorov simplesmente justificaria os crimes cometidos pelos nazistas na Segunda Guerra, incluindo o Holocausto. Historiadores profissionais criticam o Suvorov apontando 'ausência de documentação'(carência de fontes) na qual ele deveria "apoiar" suas "teses" e por também ignorar a documentação e historiografia da Segunda Guerra que cobre o ataque do regime nazista à União Soviética(coisa que um historiador sério atenta), preocupando-se em defender mesmo sem provas a "tese" que defende. Em resumo, historiadores sérios(exemplos: John Lukacs, David Glantz, Richard Overy ) não encaram os livros do Viktor Suvorov como algo sério e sim como propaganda, tal qual os "livros" dos negadores do Holocausto quando tratam do genocídio da Segunda Guerra. Livro do Suvorov sobre Segunda Guerra além de perda de tempo, trata-se de 'literatura pobre' e de baixa qualidade sobre a Segunda Guerra e propaganda ideológica e "revisionista" do tempo da Guerra Fria, nada além disso.

[2] Folha de parreira(fig-leaf): termo alusivo ao mito do Gênesis acerca da folha de parreira de Adão, usado neste caso como "coisa que encobre algo vergosonhoso", "cortina de fumaça".

4 comentários:

Carlos disse...

O livro de Suvorov é muito bom. Ele sai do esquema oficial já bastante divulgado e apresenta um outro ponto de vista. Isso é muito enriquecedor e agrega conhecimento.

Recomendo sua leitura a todos os estudiosos e interessados em histórica.

Roberto disse...

"O livro de Suvorov é muito bom."

Se ele anunciasse que o livro é ficção e propaganda política, seria 'muito bom' embora esse tipo de propaganda em tempos de internet não causam o mesmo impacto que causaria nas décadas anteriores antes do uso em massa da internet, pois historicamente é o que livro dele é, propaganda anticomunista do fim da Guerra Fria pra agradar seguimentos da extrema-direita, dando suporte ideológico(a "tese" do livro) pra ela usá-lo pra justificar a guerra genocida do cabo austríaco.

Roberto disse...

"Ele sai do esquema oficial já bastante divulgado e apresenta um outro ponto de vista."

Não existe esquema oficial, existe historiadores de renome, por mérito, que são reconhecidos mundialmente porque seus livros são relevantes pra História e pro ensino de História.

História não é "ponto de vista", é baseada/construída em cima de fatos, documentação, honestidade de avaliação das fontes usadas(pra não haver distorção na interpretação) etc.

É por isso que muitos daqueles que se dizem "revis" ou simpatizam com os "revis" ou com a extrema-direita(que é quem louva o Suvorov) não conseguem distinguir sequer fato histórico de "opinião", algo básico pra quem quer aprender/pesquisar História.

"Isso é muito enriquecedor e agrega conhecimento."

Eu costumo dizer que livro bom de História são aqueles produzidos por historiadores sérios ou gente que é reconhecida, por mérito, nesse meio de História. Isso sim é enriquecedor e agrega conhecimento.

Agora, só quem pensa dessa forma é quem quer de fato quer 'aprender História' e não fazer uso político de panfletos camuflados de "livros de História" pra "defender" certas visões de mundo "questionáveis"(belicistas, genocidas etc).

Até porque isso não passa de um comportamento profundamente fanático, vazio, que não acrescenta nada à humanidade e não o comportamento de uma pessoa que quer aprender ou adquirir cultura.

Roberto disse...

"Isso é muito enriquecedor e agrega conhecimento."

Definitivamente isso não é muito enriquecedor e tampouco agrega conhecimento, isso é propaganda enganosa e atesta um certo apego à venda de livros de baixo nível cultural(subliteratura histórica) por parte das livrarias do país.

"Recomendo sua leitura a todos os estudiosos e interessados em histórica."

Quem pesquisa e é interessado na 2aGM, de fato, não leva a sério esse tipo de livro.

Por seu comentário dá pra ver que é mais uma papagaiada de "revi" enchendo o saco com essa obsessão hitlerista, só respondi a esse comentário, que sei que é malicioso, pra mostrar a quem lê o blog a "mentalidade" desse pessoal de extrema-direita e a forma como eles "encaram" livros de História.

Quem for interessado de fato pelo tema procurará autores sérios(citei três só no post) de História ou de História militar sobre a URSS ou a Alemanha desse períoso. Livros sérios não faltam, no blog e na parte de bibliografia há indicação de vários.

Suvorov não é algo sério. Chega até ser ridículo ter que citar esse cara num post mas como o intuito de lançamento desse livro é só o de formar fanáticos, ideologicamente falando, gente desajustada que futuramente apoiaria grupos de extrema-direita(mas que na cabeça de quem lança isso acha que o livro "formará críticos sérios da esquerda"), disso torna-se pertinente a crítica.

Se não fosse por isso eu sequer mencionaria a existência desse cara pois a "contribuição" dele pro estudo de História da 2aGM é nulo, a não ser como um propagandista anticomunista do fim da Guerra Fria que agrada o ego de gente que compartilha dessa visão de mundo da extrema-direita.

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