sábado, 16 de julho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 4

México, a Segunda Guerra Mundial e o Terceiro Reich

O começo da Segunda Guerra Mundial teve grandes repercussões para os países latinoamericanos. A neutralidade, que em poucos dias proclamaram todos os estados, limitou a liberdade de ação. O tratamento dos cidadãos dos países em guerra adquiriu grande importância, porque isto podia pôr em perigo a neutralidade do país. Finalmente, muitos estados europeus deixaram de ser sócios comerciais como consequência das conquistas alemãs e o bloqueio inglês.

A Segunda Guerra Mundial também mudou o papel dos Estados Unidos da América no sistema internacional. Ainda que neutro legalmente, claramente se alinhou junto às democracias e apoiou a Inglaterra em sua luta contra o Terceiro Reich. Por temor da subversão totalitária no continente americano e por motivos estratégicos, ainda antes de seu ingresso na guerra em dezembro de 1941, o governo americano tratou de liquidar a influência alemã na economia, na política e nas sociedades latinoamericanas. Sobretudo permitiu que se proibissem as organizações nacional-socialistas e se intesificasse a cooperação militar, econômica e política com os estados ao sul do Rio Grande.

Em setembro de 1939, as relações mexicano-americanas, que nunca haviam estado livres de tensões, haviam chegado outra vez a um ponto morto, havendo piorado com a nacionalização da indústria petroleira em março de 1938, que havia afetado também a empresas americanas. Estas impediram o transporte e a venda de petróleo mexicano, e exigiram a restituição de suas possessões anteriores ou uma indenização. O governo americano suspendeu a compra de prata mexicana, praticamente boicotou o petróleo mexicano, rompeu as negociações de um acordo comercial e negou créditos estatais para o vizinho do sul; por outra parte, o México tinha que pagar compensações aos cidadãos americanos que perderam seus bens durante a Revolução - e todos os problemas que não haviam sido resolvidos quando começou a guerra[45].

Pouco tempo depois do começo das hostilidades, no México se começou a pensar nas consequências da guerra e em como enfrentá-las. A perda do mercado europeu era o que mais preocupava aos políticos e lhes deu a convicção de que havia que se intensificar as relações comerciais com os estados do continente americano. Depois de perder a esperança em um ponto final da guerra por causa da agressão alemã contra Dinamarca e Noruega, o governo mexicano começou a tomar medidas concretas. Em um memorando que transmitiu ao presidente Lázaro Cárdenas em 16 de maio de 1940, o General Rafael Sánchez Tapia examinava criticamente a política de neutralidade, chegando à conclusão de que era inevitável a entrada dos Estados Unidos na guerra. Independentemente de sua origem, disse, esta podia se extender pelo continente americano, já que uma guerra, dada a interdependência econômica e política, significava uma ameaça para todos os países do mundo. Tapia opinava que os estados da América Latina e o Caribe jogavam um papel iminente na conflagração. O México, antes de tudo, tinha uma posição geopolítica importante, por sua infraestrutura e a proximidade do canal do Panamá. Por isso, o país não podia manter a política exterior que havia praticado até então. A neutralidade de um estado débil como o México não serviria em caso de um conflito entre os Estados Unidos e outra potência, se um dos combatentes necessitasse do México para fins militares. Tapia propunha concluir um acordo militar com os Estados Unidos tanto antes fosse possível. Ainda que o ingresso na guerra dos Estados Unidos arrastasse o México, tal acordo tinha vantagens para Tapia, pois permitiria solucionar alguns dos problemas com o grande vizinho: por exemplo, as velhas dívidas e a nacionalização de empresas ou fazendas americanas. O México poderia prover matérias-primas e produtos que necessitassem os Estados Unidos para sua defesa. Mediante a cooperação com os EUA, podia-se fomentar a indústria mexicana, a construção de estradas etc. Em resumo, uma aliança com os Estados Unidos poderia contribuir muito para o crescimento econômico e a solução de problemas urgentes. As vantagens para os EUA, seriam que o México serviria de exemplo para outros países latinoamericanos; que, como aliado, os EUA, teriam fácil acesso a portos e aeroportos mexicanos pelos quais poderiam transportar material e homens para a defesa do canal; finalmente, o México poderia estabelecer bases para o abastecimento e o apoio do exército americano[46].

O presidente Cárdenas evidentemente levou em conta os conselhos do general. Em 01 de junho, por exemplo, o embaixador mexicano nos EUA, durante uma visita ao México, comunicou a um funcionário da representação diplomática americana que se poderia enviar um alto militar aos Estados Unidos para conversar, entre outras coisas, sobre uma cooperação mais estreita e a nacionalização das empresas petroleiras. Alguns dias mais tarde, o mesmo Castillo Nájera declarou em Washington ao sub-Secretário de Estado, Sumner Welles, que o presidente Cárdenas estava de acordo com que militares americanos e mexicanos falassem sobre uma cooperação em caso de estourar um conflito. Sublinhou especialmente que o presidente lhe havia encarregado de assegurar que o México estava interessado em um acordo militar e que, em caso de guerra, os EUA podiam contar com todo o apoio possível[47].

Umas semanas depois, em 19 e 21 de junho, reuniram-se os ministros mais importantes na residência de Cárdenas, para estabelecer a posição do país ante a conferência dos estados americanos em julho em Havana[48]. Já o memorando do general Tapia havia sublinhado a necessidade de cooperar com os EUA. Nesta reunião cristalizaram-se mais as posições fundamentais da iminente política exterior que se avizinhava. Houve um acordo quase unânime de que a Alemanha, apesar dos últimos sucessos, todavia não havia triunfado na guerra. Também se combinou que os EUA se sentiam ameaçados militar e economicamente pelos países do Eixo e a guerra na Europa, e que realmente esta ameaça existia e também tinha importância para o México, porque seu destino como país dependia dos Estados Unidos. Assim mesmo, os representantes do governo concordaram de que, cedo ou tarde, os EUA entrariam na guerra e lutariam ao lado dos Aliados. O Secretário de Relações Exteriores Hay disse que os americanos inclusive se sentiam obrigados a intervir militarmente para contra-arrestar a expansão econômica alemã porque, depois da consolidação de seu império na Europa, a Alemanha seguramente trataria de eliminar os EUA do mercado latinoamericano. Posto que o México, um país débil, não poderia recusar os desejos dos EUA, prosseguiu Hay, teria que cooperar na defesa do continente. Se o México se opusesse a tal cooperação, os EUA igualmente tomariam o que necessitavam. Por último, disse que não se podia trair a pátria: aquela cooperação devia ser digna, patriótica e decorosa.

Por outro lado, contudo, o Ministro Suárez não queria se concentrar demasiadamente nos EUA. Em sua opinião, o México deveria deixar abertas as opções, por exemplo, a possibilidade de seguir comercializando com a Europa. Sobretudo haveria que tratar, tal como havia assinalado Tapia, de solucionar os problemas existentes com os americanos e de tirar vantagens de uma cooperação com os EUA:

"Se os Estados Unidos exigem do México uma colaboração em matéria militar, política, internacional, e em matéria de defesa, tenhamos a habilidade suficiente para obter o maior número possível de vantagens para o México. A medida em que cooperemos com os Estados Unidos deve ser em troca de uma vantagem. Deve-se estabelecer a cooperação sobre a única base que existe, sobre a base da reciprocidade".
Ainda mais que o governo mexicano poderia negociar de uma maneira mais dilatada, enquanto os EUA ainda não houvessem entrado na guerra, a cooperação mexicano-americana foi-se intensificando mais adiante[49].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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