sábado, 29 de setembro de 2012

Historiador destaca canibalismo do Exército japonês em livro (Beevor - Segunda Guerra Mundial)

Imagem mostra a capa do livro de
Antony Beevor. Foto: Reprodução
Durante a Segunda Guerra Mundial, "os japoneses praticaram uma política de canibalismo com seus prisioneiros de guerra e, inclusive, com seus compatriotas mortos em combate", explicou nesta terça-feira em entrevista à Agência Efe o historiador britânico Antony Beevor.

Segundo Beevor, esse foi um dos aspectos que mais lhe surpreendeu durante a pesquisa elaborada para a realização de "A Segunda Guerra Mundial" (The Second World War), um livro que não pretende ser "o definitivo", mas sim lançar um olhar global baseado em sua experiência como escritor e como ex-militar.

Esse canibalismo era um fato que Beevor não conhecia. Os americanos e os australianos decidiram não dizer nada no final da guerra pelo choque que essa notícia poderia causar entre os familiares dos prisioneiros, explicou o historiador à Agência Efe em Madri, onde hoje apresenta seu novo livro.

Trata-se de uma prática que demonstra toda a crueldade do "extremamente militarizado" Exército japonês, que humilhava os soldados e usava toda a "fúria absorvida nas batalhas para se vingar contra os soldados vencidos".

Apesar de ainda não ser uma notícia pública e de massa, somente uma nova geração de jovens historiadores japoneses tiveram coragem de trazer este fato à tona, explica Beevor.

"É óbvio que todos os exércitos tiveram tentações de cometer crimes, mas alguns mantiveram certas coerências e proporções. No entanto, há diferentes pautas de comportamento. Nem todos os Exércitos foram iguais", completa o historiador.

Outro fato que surpreendeu Beevor foi o "terrível sacrifício" que os comandantes soviéticos infligiram a suas tropas na operação de distração durante a batalha de Stalingrado, que aconteceu para distrair os alemães e supôs a morte de 250 mil russos.

"Sacrificaram mais homens que os britânicos e os americanos juntos no Dia D", revelou Beevor.

Atrocidades existem em todas as guerras, embora o canibalismo dos japoneses é, sem dúvida, o fato mais terrível que Antony Beevor conta em seu novo livro, uma vasta obra que já foi lançada na Colômbia, na Argentina, no México e que, segundo o próprio autor, será publicado em toda América Latina.

Com mais de 30 anos de dedicação ao conflito militar mais amplo e sangrento da história, Beevor, neste livro com mais de mil páginas, resgata informações tiradas dos arquivos russos, alemães e, principalmente, franceses.

Apesar do excesso de fatos, o autor conseguiu achar uma estrutura para não se "afogar", um fato que, segundo o próprio autor, só foi possível graças a sua experiência prévia com livros como "Stalingrado" (2000) e "Berlim: A queda 1945" (2002), autênticos "best sellers" de nível mundial.

Neste novo lançamento, Beevor volta a recorrer ao elemento mais característico da escritura: uma mistura entre as épicas narrações das batalhas e das grandes discussões políticas com os detalhes mais humanos e desumanos das vítimas e carrascos da guerra.

Uma história que Beevor começa a contar na frente oriental, na guerra entre chineses e japoneses, um primeiro exemplo das atrocidades que cometeriam os japoneses, que em Nanjing mataram entre 200 mil e 300 mil chineses da maneira mais cruel, sem distinguir sexo e idade.

Se Beevor decidiu começar por essa parte da história é porque pensa que isso condicionou todo o desenvolvimento posterior de um conflito que se caracterizou por incluir "elementos de uma guerra civil internacional" e que, na realidade, foi "um conglomerado de diferentes conflitos".

"Me senti muito lisonjeado quando disseram que este era o livro definitivo sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas, na verdade, não é assim. Sempre haverá novos elementos. Os arquivos da Rússia são enormes e só puderam ser consultados entre 1995 e 2000, enquanto o dos japoneses não deixam pesquisadores estrangeiros consultar os seus", ressaltou Beevor.

Apesar de ainda existir muitas coisas por descobrir, Beevor aponta que o mais intrigante de seu livro são as histórias individuais, muitas delas tiradas de testemunhos de combatentes franceses cujos descendentes entregaram suas cartas às autoridades.

Através dessas histórias pessoais, o leitor se identifica mais facilmente com uns fatos que ultrapassam o entendimento, sendo que esse tipo de narração é o que fez de Beevor um dos historiadores mais lidos na atualidade.

"Hoje em dia, eu não entendo como fizemos para viver nas trincheiras, no descoberto, na neve, congelados de frio e sem tirar jamais os sapatos e a roupa. Isso sem ter água e sem ter nada com que se esquentar". Este é o testemunho de um oficial do Exército Vermelho que se une a outros muitos em uma obra imprescindível para quem deseja entender o que ocorreu com mundo no século XX.

Fonte: EFE/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6178212-EI8143,00-Historiador+destaca+canibalismo+do+Exercito+japones+em+livro.html

Observação: o livro já foi lançado em espanhol no último dia 25 de setembro. Sem notícia anunciando o lançamento do livro em português.

Ver:
Antony Beevor lanza hoy libro sobre II Guerra Mundial donde revela episodios de canibalismo (Latercera.com)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Antissemitismo no CODOH (a 'central' do "revisionismo")

Encontrar antissemitas no CODOH é como pescar peixe num barril, mas vale a pena reunir os casos em que Jonnie Hargis permite ficar no fórum. Eu os reproduzi sem comentar porque seu ódio e veneno são óbvios a qualquer leitor não insano.

Em 6 de maio de 2005, 'steve' (que tem 149 postagens no CODOH) escreveu:
Você parece muito irritado com o fato de que alguns de nós têm claramente um problema com os judeus. Bem, e se estivéssimos certos sobre a grande farsa? Isso significaria que todos os judeus "testemunhas oculares" são um bando de mentirosos imbecis. Imagine isso. Todas essas histórias incríveis. Não são os irlandeses dizendo todas essas mentiras. Eles são/eram judeus! Imagine o Holocausto como uma grande mentira.

[...]

Se realmente for o caso do Holocausto ser uma mentira, certamente você pode entender porque alguns de nós estarem muitos chateados com os judeus. Afinal, não é razoável? Se o H (Holocausto) for uma mentira não ter um problema com os judeus? Isso não seria uma reação natural? Claro, não estou dizendo que se deve odiar TODOS os judeus (eu gosto de Bobby Fischer, por exemplo), mas estou dizendo que se o H (Holocausto) for de fato uma grande mentira, o sentimento anti-judaico é perfeitamente compreensível.
No mesmo ano, Turpitz postou a visão de Bobby Fischer de que "Os Estados Unidos é uma farsa controlada por sujos, judeus bastardos circuncidados de nariz adunco"; Turpitz comentou, "e quem sou eu para não concordar com ele?"

O moderador Jonnie Hargis afirmou que as vítimas alvejadas pelos Einsatzgruppen não eram inocentes:
- Os judeus eram bastante ativos na atividade ilegal de grupos terroristas partisans (combatentes não-uniformed), eles sofreram casualidades através das ações anti-terroristas dos Einsatzgruppen, eles certamente não eram 'inocentes'.
Na mesma discussão, ele defendeu o assassinato de crianças judias:
Na realidade, mulheres e crianças estavam envolvidos em terrorismo partisan, então eu sugiro que você leia a lei internacional do período.
Hargis tem um problema com Chomsky:
Eu tendo a concordar com a afirmação de que Chomsky é uma fraude dos direitos humanos. E nem precisa mencionar seu judeu-centrismo nas ideias marxistas que historicamente se comprovaram ser impraticáveis.
O que exatamente significa o 'exceto judeu-centrismo marxista' na mente de um nazi?

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2011/11/antisemitism-at-codoh.html
Texto: Jonathan Harrison
Tradução: Roberto Lucena

Cidade austríaca debate futuro de casa onde Hitler nasceu

Casa onde Adolf Hitler nasceu causa dor de
cabeça para a cidade de Braunau, na Áustria
Foto: AP
A pequena cidade de Braunau, na Áustria, tem cara de cartão postal. Em frente à praça, uma casa do período renascentista permanece vazia, apesar da falta de espaço para se morar na cidade. O motivo é a aura sinistra que acompanha a construção: foi a casa onde Adolf Hitler nasceu.

A casa de mais de 500 anos normalmente seria considerada uma propriedade de alto valor, mas o estigma do nascimento de Hitler tem causado dor de cabeça para a prefeitura, que precisa decidir o que fazer com este marco intimamente ligado ao mal. Com o espaço vazio, o prefeito da cidade, Johannes Waidbacher, declarou que gostaria de transformar o lugar em apartamentos ao invés de um memorial do Holocausto.

Porém, o conselho da cidade teme que, convertido em apartamentos, o local poderia se encher de adoradores de Hitler. "Estas certamente não são o tipo de pessoa que queremos aqui", afirmou Harry Buchmayr, um membro do conselho da cidade, apontando que a maioria das pessoas que visita o local não são turistas normais, mas neonazistas prestando homenagem à Hitler.

A casa é um dos poucos locais ainda diretamente ligados à Hitler. Uma casa perto da cidade de Leonding, onde Hitler passou parte da adolescência, agora é usada como depósito de caixões para o cemitério da cidade. No cemitério, as tumbas dos pais de Adolf Hitler foram removidas depois de virarem local de peregrinação de neonazistas. O bunker onde Hilter cometeu suicídio foi destruído depois da guerra.

No final das contas, o destino da casa será decido pela dona do local, uma senhora de 60 anos que pede para permanecer no anonimato. O Ministério do Interior da Áustria aluga o local desde 1972. A dona se opõe em transformar a construção em um memorial do holocausto, o que significa que apartamentos ainda podem ser construídos na construção. Para Buchmayr, isso seria um pesadelo.

Fonte: AP/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6185145-EI8142,00-Cidade+austriaca+debate+futuro+de+casa+onde+Hitler+nasceu.html

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Obra de Art Spiegelman mistura história pessoal com mundial

Art Spiegelman revolucionou os quadrinhos com "Maus", obra vencedora do prêmio Pulitzer. Em entrevista à DW, ele falou sobre o valor das HQs, o mundo após o 11/09 e a vida sob o peso de um enorme rato.

Art Spiegelman é uma pessoa ocupada. Ele se autodescreve como "cosmopolita arraigado" e está na Alemanha para promover a exposição itinerante CO-MIX. Art Spiegelman: Uma retrospectiva de cartuns, trabalhos gráficos e recortes, no Museu Ludwig em Colônia.

Rodeado por jornalistas na sala de imprensa do Museu Ludwig, há um certo alívio quando um repórter indaga: "Você se importa se não perguntarmos 'por que um rato, por que um livro de quadrinhos'?"

"Boa ideia", respondeu Spiegelman. "Quero dizer, já respondi tudo o que podia responder". Isso explica em grande parte a produção de MetaMaus. É uma oportunidade, disse Spiegelman, de enfrentar "um rato de mais de 2 toneladas, que o vem perseguindo desde que Maus: a história de um sobrevivente foi lançado há duas décadas."

Sala de espelhos

Capa de 'Maus. a história de um sobrevivente'

"Maus foi construído a partir de entrevistas com o meu pai e fiz MetaMaus a partir de entrevista comigo mesmo, e agora estou sendo entrevistado sobre 'MetaMaus'. Então há um ponto onde tudo fica tão 'meta' que a pessoa acaba se perdendo na sala dos espelhos", explicou.

O autor é um grande adepto de navegar naquela sala de espelhos. Como seus cartuns, desenhos e livros, ele é articulado, pensativo e envolvente. Maus trouxe a Spiegelman um tipo de reconhecimento internacional que mudou sua vida, uma experiência vivenciada somente por poucos.

Filho de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto, Spiegelman nasceu em Estocolmo, em 15 de fevereiro de 1948. A família emigrou para os EUA quando ele ainda era criança, e ele cresceu no bairro nova-iorquino do Queens.

Como figura-chave do movimento comix underground (de comics, HQs em inglês) nos anos 1960 e 1970, ele iniciou os trabalhos de Maus no início dos anos 1970.

Maus conta a história do pai de Spiegelman, Vladek, desde sua infância em Czestochowa, na Polônia, e então em Sosnowiec, após ter encontrado a mãe de Spiegelman, Anja, e suas subsequentes vivências nas mãos do regime nazista. Tanto Vladek quanto Anja sobreviveram os horrores de um campo de concentração. A grande maioria dos membros de sua família, incluindo seu primeiro filho, Richieu, não teve a mesma sorte.

O peso da história

Maus pula de conversas entre Spiegelman e seu pai em Nova York para eventos na Polônia e Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. No romance, os judeus são retratados como ratos, os alemães como gatos e os poloneses como porcos.

Apesar do legado familiar judaico-alemão e da infância do autor na Suécia, as conversas com seu pai são narradas em inglês. "Eu não conheço outra língua, sou norte-americano", explicou Spiegelman com naturalidade.

A máscara do rato

Art Spiegelman: 'Autorretrato com máscara de Maus'

Art Spiegelman: 'Autorretrato com máscara de Maus'

Maus foi originalmente publicado em Raw, uma antologia de quadrinhos de vanguarda editada por Spiegelman e sua esposa, Françoise Mouly, entre 1980 e 1991. Após uma série de cartas de rejeição de possíveis editores, a primeira metade de Maus: a história de um sobrevivente, com o subtítulo Meu pai sangra história foi publicada pela editora Pantheon em 1986.

Esse livro e o segundo volume com o subtítulo E aqui meus problemas começam publicado em 1991 mudaram para sempre a percepção popular das HQs, também conhecidas como romances gráficos.

Isso lhe garantiu o prêmio Pulitzer em 1992, como também outros prêmios, distinções e reconhecimento desde então. Não é preciso dizer que o fato transformou a vida de Spiegelman.

"Eu ganhei uma máscara de 'Maus' estampada no meu rosto e eu tenho que aprender a conviver com ela ou ser capaz de ver através dela e permitir que as pessoas olhem para a máscara e observem os menores protosplasmas por detrás", disse o autor.

MetaMaus é a maneira que ele encontrou para expressar isso. É um arquivo de documentos históricos, álbuns de família, um DVD contendo áudios de conversas com seu pai, notebooks pessoais e esboços. Ele contém até mesmo cópias de cartas de rejeição do período em que Spiegelman estava lutando para encontrar um editor para o trabalho. Na época, a ideia de retratar a barbaridade do Holocausto numa história em quadrinhos aparentemente superficial assustou a maioria dos editores.

Desenhando a aniquilação

O desafio de representar a perseguição sistemática e o extermínio de milhões de pessoas tem incomodado gerações de artistas desde o fim da Segunda Guerra, em 1945. No entanto, a cultura popular está repleta de filmes, livros, documentários e biografias sobre o Holocausto. Mas poucas foram tão incisivas quanto Maus. Trata-se de umas das obras mais contundentes, assustadoras e autênticas de qualquer gênero sobre o Holocausto – e é uma história em quadrinhos.

"Há um certo tipo de fazer que é como um sismógrafo de pensar. Isso torna o pensamento visível. E, para mim, é emocionante e interessante quando eu olho para o trabalho de outras pessoas. E tudo o que posso oferecer é tornar meu pensamento visível", disse Spiegelman.

Como no caso de seus pais, há pouco mais de uma década, Spiegelman se encontrou na interseção entre "história pessoal e a história mundial", como ele mesmo descreveu. Bem no centro de Nova York, onde a tradição norte-americana de HQs nasceu nas prensas das editoras Hearst e Pulitzer, existe um lugar chamado Ground Zero.

Entre história pessoal e mundial: painel ilustrativo para 'In the Shadow of No Towers'

Entre história pessoal e mundial: painel ilustrativo para 'In the Shadow of No Towers'

A arte da provocação

Spiegelman produziu a capa icônica da edição da revista The New Yorker publicada em 24 de setembro de 2001, retratando as Torres Gêmeas em preto sobre um fundo cinza escuro. O autor disse que não foi tanto o dia em si – 11 de setembro de 2001 – que o motivou a desenhar, mas as consequências desse evento histórico, que se desenvolveu ao longos dos anos seguintes.

Enquanto se conversava no Museu Ludwig, a controvérsia em torno do filme The Innocence of Muslims se espalhava pelo mundo. A indignação foi alimentada por uma série de charges do profeta Maomé publicadas na revista satírica francesa Charlie Hebdo.

Parece que o trabalho de um cartunista se tornou mais perigoso nos dias de hoje. Mas de Honoré Daumier a Art Young, de Robert Crumb a Kurt Westergaard, a história da ilustração e das charges vive e respira a provocação.

"Estou muito orgulhoso do Charlie Hebdo pelas charges feitas esta semana, mesmo que isso venha a criar um problema para o governo francês, porque não se trata de um filme ou charges ruins. É o que sempre chamo de 'MacGuffin', uma palavra que Hitchcock inventou para descrever a motivação de uma história", explicou Spiegelman. "A obra de arte em si é uma desculpa", acrescentou.

Autora: Helen Whittle (ca)
Revisão: Francis França

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,16257962,00.html

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Franco e o extermínio - Parte 2 (Holocausto)

Outra das imagens do encontro de Hitler e Franco
em Hendaya três meses depois do começo
da Segunda Guerra Mundial
Talvez outra das perguntas que sugerem estes acontecimentos é a de quanto tempo Franco se mostrou tão insensível e tão antissemita? Os documentos avindos só dão uma resposta parcial a esta questão. Há dezenas de papeis que tratam deste assunto e até o analisam, e alguns deles desliza alguma explicação para esta interrogação. Por exemplo, o telegrama cifrado de 22 de fevereiro de 1943 escrito pelo embaixador Hans von Moltke, que acabava de insistir mais uma vez ante o governo espanhol e informava a Berlim: "... o governo espanhol decidiu não permitir em nenhum caso a volta à Espanha dos espanhóis de raça judia que vivem em territórios sob jurisdição alemã" e acrescenta mais adiante que "o governo espanhol abandonará os judeus de nacionalidade espanhola a seu próprio destino". E além de outras considerações escrevia o seguinte: "O diretor geral [refere-se ao diplomata espanhol José María Doussinague] comentou que esses judeus seriam provavelmente mais perigosos na Espanha que em outros países porque os agentes americanos e ingleses os captariam em seguida para utilizá-los como propagandistas contra a aliança do eixo, em especial contra a Alemanha. Além disso, o senhor Doussinague não mostrou muito interesse espanhol no assunto. Rogo por novas ordens. Assinado: Moltke”.

Ninguém pode escapar que neste breve texto se evidencia que a olhos franquistas os judeus eram muito "perigosos", em sintonia com a ideia de Eberhard von Thadden, reproduzida em umas linhas antes, nas quais considerava que um judeu, pelo fato de ser judeu, já era um antialemão. E um detalhe a mais pra sublinhar: nos comentários de Doussinague que foram recolhidos por Moltke se percebe claramente que nas altas esferas da ditadura franquista não se acreditava na declarada neutralidade espanhola durante a Segunda Guerra Mundial, pois o diplomata espanhol não duvidou em situar como inimigo a "americanos e ingleses".

O regime era sintonizado totalmente com Berlim, e apesar dos reiterados ultimatos alemães - obviamente secretos - que advertiram explicitamente ao governo espanhol das medidas extremas de que seria alvo o coletivo judaico, Franco se opôs a salvá-los, mas não esqueceu de reclamar pelas propriedades e o dinheiro dos aniquilados, considerados, portanto, cidadãos espanhóis todavia. Diria-se o o seguinte: "(...) A embaixada espanhola solicita ao Ministério de Relações Exteriores (alemão) que intervenha ante as autoridades correspondentes para lhes explicar que os bens dos judeus espanhóis deixados pra trás ao saírem da França, Bélgica e Países Baixos serão administrados pelos cônsules espanhóis ou representantes da Espanha e que têm que ficar em sua posse por se tratar de bens de súditos espanhóis e portanto sendo um bem nacional da Espanha. Berlim, 25 de fevereiro de 1943”.

Capa do livro, publicado pela Librosdevanguardia
Essa história tem outro lado trágico, mas muito honroso. Enquanto se produziam as deportações e a Espanha negava o pão e sal a milhares de seres humanos, uns horrorizados diplomatas espanhóis atuaram por sua própria conta e contra as ordens vindas de Madri. Falsificaram documentos e conseguiram salvar centenas de pessoas. Todos alertaram a Madri do genocídio em telegramas secretos, e dois deles, Ángel Sanz Briz, de Budapeste (Hungria), e Julio Palencia, da representação da Espanha em Sófia (Bulgária), foram duramente explícitos em suas mensagens. O primeiro, conhecedor do chamado "protocolo de Auschwitz", avisou sobre as matanças em câmaras de gás, e o segundo, testemunha presencial em sua embaixada, escreveu a Madri avisando sobre o desastre humano. Julio Palencia redatou, com o respeito de um funcionário em uma ditadura, várias cartas que enviou a seu ministro e cuja leitura emociona ao mais endurecido"... se por acaso VE (Vossa Excelência) considera digna de ser tomada em consideração minha sugestão... tenha por bem me conceder certa elasticidade para... conceder vistos a israelitas de qualquer nacionalidade ou condição… pois os judeus estão sendo vítimas de uma perseguição cruel e encarniçada que a pessoa mais ponderada e fria ficaria espantada em seu ânimo ao contemplar as injustiças e horrores que essas autoridade vêm cometendo…”, dizia uma carta de Palencia de 14 de setembro de 1942. O ministro não autorizou os vistos que solicitou Palencia, que, desesperado, chegou a adotar dois jovens judeus para salvá-los da morte. Três anos depois, quando a guerra mundial mudou de curso e os aliados pressionaram a Franco, este se apropriou dos atos heroicos desses diplomatas para ganhar a benevolência dos vencedores.

Passaram-se os anos, Franco morreu na cama, e um jovem Juan Carlos manobrou em segredo a favor da democracia ante o atento olhar dos serviços de inteligência europeus e estadounidense. Com suas manobras, muitas em conivência com Adolfo Suárez, consta na documentação avinda que Juan Carlos jogou até o limite do possível para deixar pra trás o passado tão obscuro do que aqui tem sido dada uma pincelada. Era a transição, a mudança.

Os serviços secretos ocidentais tomaram nota de tudo, até de como Adolfo Suárez apontou em quatro papéis que entregou ao Rei no tempo da transição, que cumpriu com todo rigor contra o vento e a maré. O livro o explica. E um pouco depois, já com uma Espanha nova, Dom Juan Carlos seria o primeiro chefe de Estado espanhol que rendia homenagem em Yad Vashem às vítimas do Holocausto se apartando do terrível legado histórico de Franco e de Isabel, a Católica, a rainha espanhola mais admirada pelos nazis, a qual lhe dedicaram vários relatórios que fariam sorrir se se por detrás deles não houvesse uma matança de proporções colossais.

Mas nem tudo foi ocultado no que se refere à Espanha. Os aliados também têm algo a explicar. Uma mensagem secreta de Sir Harold MacMichael, alto comissionado britânico para o protetorado da Palestina, enviada em 15 de junho de 1944 a Sir Anthony Eden, então Ministro de Relações Exteriores do Reino Unido e logo premier, disse outras coisas: "Os nazis têm a esperança de obter alguma graça ante os olhos aliados pelo fato de não matar agora a dois milhões de judeus, pois creem que ajudará a esquecer que já mataram seis milhões de judeus". Lido de outra forma: em plena guerra, como Franco, os aliados sabiam perfeitamente o que estava acontecendo nos campos de extermínio. A pergunta é óbvia: o que fizeram pra evitar?

Fonte: Magazine Digital, do jornal Lavanguardia.com (Espanha)
http://www.magazinedigital.com/reportajes/los_reportajes_de_la_semana/reportaje/cnt_id/8416/pageID/2
Tradução: Roberto Lucena

Franco e o extermínio - Parte 1
O inimigo judeu-maçônico na propaganda franquista (1936-1945)

domingo, 23 de setembro de 2012

Franco e o extermínio - Parte 1 (Holocausto)

Franco e o extermínio. Texto de Eduardo Martín de Pozuelo

As investigações do jornalista Eduardo Martín de Pozuelo nos arquivos dos Estados Unidos, Reino Unido e Holanda desvelaram que Franco deixou morrer a milhares de judeus que teve em sua mão condições de salvá-los. O autor avança nestas páginas a informação que detalha em seu novo livro. O franquismo, cúmplice do Holocausto, publicado pela Librosdevanguardia depois do sucesso de "Los secretos del franquismo" (Os segredos do franquismo).

O encontro de Franco com Hitler
em Hendaya em 23 de outubro de 1940
Durante toda sua vida, Francisco Franco se referiu a um abstrato perigo judeu (maçônico e comunista, também) como o maior inimigo da Espanha construída depois de sua vitória na guerra civil de 1936-1939. Obcecado com esta ideia até o fim de seus dias, o Caudilho se referiu mais de uma vez a judeus em seu último discurso de 1 de outubro de 1975, pouco antes de morrer. Tão insistente foi Franco com seu ofuscamento sobre uma “mancomunação judaico-maçônica” que a tudo destruía, que a frase ficou impressa na mente dos espanhóis como um chavão sem graça da retórica obsessiva do Generalíssimo a qual inclusive muitos franquistas nem prestavam atenção. De fato, parecia que carecia de um significado tangível. Contudo, Franco falava a sério, convencido do que dizia.

Os anos e a tergiversação da história fizeram com que seu antissemitismo se diluísse como um torrão de açúcar na patética frase referida. Contudo, é óbvio que em seus inflamados discursos Franco não deixou de se mostrar antissemita, mas nunca revelou que seu ódio-temor havia tido durante a Segunda Guerra Mundial uma repercussão criminosa somente descoberta graças ao conteúdo de dezenas de documentos secretos desclassificados, encontrados nos arquivos dos Estados Unidos, Reino Unido e Holanda.

Até agora ninguém pensava em Franco quando se falava do Holocausto, como se a Espanha pró-nazi do início dos anos quarenta, claramente desenhada pelos documentos que um dia foram secretos, houvesse assistido de longe como a Alemanha nazi deportava e assassinava milhões de judeus e outras minorias. Mas na realidade, espantosa, como aflora nos documentos citados mostra que Franco pode salvar a dezenas de milhares de sefarditas, mas preferiu deixá-los morrer apesar dos reiterados ultimatos alemães que lhe advertiam das medidas extremas (lê-se extermínio) de que eles seriam objeto se sua Espanha não aceitasse acolhe-los.

O corolário de investigação documental que se recolhe no livro que é adiantado por Magazine tem vários pontos essenciais; o primeiro dos quais é que apenas restam dúvidas de que os nazis alentaram o golpe de Estado de julho de 1936, ao que não deixariam de apoiar até a vitória em 1939. Como consequência do apoio germânico, Franco - que em essência era, a si mesmo, franquista - inclinou dramaticamente os destinos da Espanha pelo lado alemão e não do italiano, pelo que cabe afirmar que a natureza do franquismo se percebe como sendo muito mais nazi que fascista. De fato, até a vitória dos nacionais na Guerra Civil, o III Reich desembarcou com armas e bagagens na Espanha com uma proporção de meios e humanos infinitamente superior a de qualquer outro país dos que se veriam implicados na iminente contenda mundial. Como consequência disso, os alemães influenciaram toda a política e economia espanhola, imprensa incluída, e uma vez iniciada a Segunda Guerra Mundial as relações entre a cúpula do nazismo e Franco e seus ministros foi muito estreita, e a nova Alemanha, cujo império deveria durar mil anos, teve um esquisito trato de favor ante o Generalíssimo. Esta deferência se traduziu na oferta nazi de dar fim dos judeus espanhóis espalhados pela Europa dos que eram previstos serem assassinados industrialmente. Mas Franco não os salvou, sabendo do que ia lhes acontecer, muito bem informado por embaixadores espanhóis, testemunhas de exceção das deportações. Desta forma, a ditadura espanhola se converteu em cúmplice ativa do Holocausto.

As espantosas imagens que foram encontradas
por soldados britânicos no campo de concentração
de Bergen-Belsen em abril de 1945
O oferecimento nazi de enviar a Espanha os spanischer Juden (judeus espanhóis), como designam os nazis aos judeus em todos os seus documentos, não foi produzido em uma ocasião anedótica que passou rapidamente ao esquecimento. Pelo contrário. Tratou-se de um tema de grande importância que gerou centenas de documentos, telegramas, ordens e contraordens procedentes do departamento de assuntos judaicos do Ministério de Relações Exteriores alemão, da embaixada da Alemanha em Madri e do Ministério de Relações Exteriores espanhol. E, tratado como um amigo muito especial, o III Reich brindou a Franco a entrega de milhares de judeus repetidas vezes, por escrito, como comunicação diplomática verbal com reiterada insistência dos embaixadores alemães. Tanto se esmeraram com seu amigo espanhol, que os nazis mantiveram presos mas sem deportar muitos judeus na espera de uma resposta positiva de Franco que nunca chegou. Enquanto isso, os alemães aplicaram por sua própria iniciativa o prazo limite de entrega (março e abril de 1943) para dar tempo a uma resposta de Franco.

Um resumo, parcial sem dúvida, do que aconteceu se deve a Eberhard von Thadden, conexão entre Von Ribbentrop (ministro de relações exteriores) e Adolf Eichmann (responsável pelas deportações), num telegrama cifrado para sua embaixada em Madri que enviou em 27 de dezembro de 1943: "O governo espanhol insistiu durante as negociações que houve entre 1942 e fevereiro de 1943 de que não estava interessado nos judeus espanhóis. Mais tarde foi autorizada [por parte da Alemanha] a repatriação de todos os judeus espanhóis. Repetidas vezes, a Espanha não cumpriu o prazo acordado para seu regresso. (...) Apesar disso e por precaução, a expulsão dos judeus espanhóis não começou até 16 de novembro. Por favor, explique inequivocadamente a situação ao governo espanhol e enfatize que o governo do Reich fez todo o possível para resolver o problema amigavelmente e evitar dificuldades. Fizemos isso tendo em consideração a nacionalidade espanhola [dos judeus] apesar de que se pode entender que todos os judeus têm uma atitude antialemã."

A oferta nazi continha certa piedade ante os judeus sefarditas? Não. Não se tratava disso. Era a deferência ao amigo e ao mesmo tempo uma medida para baratear os custos do extermínio. Quer dizer, antes de proceder a aplicação em toda sua dimensão da solução final, o governo do Reich deu oportunidade ao amigo Franco de decidir sobre a sorte dos spanischer Juden, de tal sorte que se lhes fossem acolhidos para que se tomasse suas próprias medidas contra eles - como supunham que aconteceria - o operativo nazi de extermínio humano se veria substancialmente reduzido.

Fonte: Magazine Digital, do Lavanguardia.com (Espanha)
http://www.magazinedigital.com/reportajes/los_reportajes_de_la_semana/reportaje/cnt_id/8416
Tradução: Roberto Lucena

Franco e o extermínio - Parte 2
O inimigo judeu-maçônico na propaganda franquista (1936-1945)

sábado, 22 de setembro de 2012

Tribunal alemão arquiva caso do nazi mais procurado do mundo (Aribert Heim)

Aribert Heim é conhecido como o "Doutor Morte" e o "Carniceiro de Mauthausen"

Um tribunal de Baden Baden, na Alemanha, vai arquivar o caso do nazi mais procurado. Aribert Heim, o "Doutor Morte", é acusado de matar 300 judeus num campo de concentração, mas terá mudado de identidade assim que chegou ao Cairo .

O caso do nazi mais procurado vai ser arquivado, segundo noticia o jornal espanhol "El País", que garante a proveniência da informação de fontes próximas à investigação.

Aribert Heim, conhecido como o "Doutor Morte" ou o "Carniceiro de Mauthausen", é um médico nazi acusado de matar 300 judeus num campo de concentração durante a II Guerra Mundial.

A acusação foi feita por um tribunal criado pelos países Aliados especialmente para julgar os crimes relacionados com o Holocausto.

Na altura foi aplicada uma multa de elevado valor a Heim mas, em 50 anos de investigação, nunca foi conhecido o paradeiro do médico.

O filho do "Doutor Morte", Rudiger Heim, afirmou em tribunal que o pai tinha morrido em 1992 num hotel localizado no edifício 414 da rua Port Said, no Cairo, Egipto.

Rudiger disse ainda que esteve junto do pai quando este faleceu aos 78 anos devido a um cancro no cólon e que, a pedido de Heim, entregou o seu corpo para fins científicos.

No entanto, Rudiger confessou que, anos mais tarde quando voltou ao Cairo, verificou que o desejo do pai não tinha sido cumprido e que o corpo não tinha tido o fim pedido. Rudiger garantiu que não sabia em que cemitério o pai poderia estar sepultado.

Ainda assim, o advogado designado para defender Heim apresentou, há uns meses, uns documentos que negam esta versão da história.

Segundo a documentação reunida, Aribert Heim mudou de identidade quando chegou ao Cairo: passou a chamar-se Tarek Farid Hussein e converteu-se ao islamismo.

Para provar esta versão, foi apresentada uma carta de condução com a fotografia de Heim correspondente à sua nova identidade e uma certidão de óbito de Tarek Farid Hussein emitida pelas autoridades egípcias.

Para terminar a investigação, a justiça alemã pediu, há vários anos, às autoridades egípcias que fossem enviados os documentos a comprovar a morte de Aribert Heim, mas tal nunca aconteceu.

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=2782035

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Hollande inaugura memorial do Holocausto

A vila de Drancy, perto de Paris, tem agora um memorial para recordar as vítimas do Holocausto e o campo de deportação que existiu neste mesmo local.

Foi aqui os nazis, com a cumplicidade da polícia francesa, juntaram dezenas de milhares de judeus franceses, entre 1941 e 1944, para depois os enviarem para os campos de extermínio, sobretudo Auschwitz.

O presidente François Hollande lembrou a necessidade de transmitir uma herança para o futuro: “Hoje, falamos em transmitir, é esse o espírito deste memorial. É na transmissão que reside o futuro da memória”.

O campo de Drancy simboliza, para muitos, a vergonha do colaboracionismo, que teve como episódio mais negro a razia do Vélodrôme d’Hiver, em 1942, em que mais de 12.800 judeus da região de Paris foram presos em apenas dois dias.

A inauguração do memorial coincide com uma nova provocação lançada pela líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, que pediu, numa entrevista a um jornal, a proibição do porte nas ruas do véu islâmico e da “kippa” judaica.

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2012/09/21/hollande-inaugura-memorial-do-holocausto/

Ver mais:
Regreso a Drancy, antesala del infierno (El País, Espanha)
Inaugura Hollande Monumento al Holocausto en Drancy (Deutsche Welle, Alemanha)
Homenaje y reconocimiento de Hollande por el Holocausto (El Comercial, Argentina)
El museo de Drancy reaviva la memoria de la Shoah en Francia (CM&, Colômbia)

Richard Millet - A extrema-direita dá as caras na França apoiando o assassino norueguês

"Breivik é o que a Noruega merece" - escritor francês causa polémica

Richard Millet, um respeitado escritor francês, está a provocar uma acesa polêmica depois de ter afirmado que o autor confesso dos ataques de Oslo, Anders Breivik, é "sem dúvida o que a Noruega merece".

Depois de ler as 1.500 páginas do manifesto online de Anders Breivik, Richard Millet disse não aprovar os ataques, que provocaram a morte a 77 pessoas, mas enalteceu as palavras do extremistas norueguês contra o multiculturalismo e a imigração.

O autor salienta que Breivik, condenado na semana passada a 21 anos de prisão, "é filho de uma família fraturada".

Vencedor de vários prêmios literários em França, Millet vê-se assim no meio de polêmica, que já levou outros autores a criticá-lo e a considerar que "ele perdeu a cabeça".

Fonte: Diário Digital (Portugal)
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=589518

Ver mais:
French writer forced to quit top post over Breivik essay (France24.com)
Norway deserved Breivik says respected French writer (RFI, França)
Writer's essay on Breivik killings provokes outrage (Irish Times, Irlanda)
French writer blasted for 'eulogy' to mass killer Breivik (France24.com)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"O Cônsul de Bordéus" - Um filme faz justiça ao "Schindler português"

Um filme faz justiça ao "Schindler português"

O Cônsul de Bordéus* Sousa Mendes
Foto: Divulgação

O filme hispano-português "O Cônsul de Bordéus" (em francês "Bordeaux") busca fazer justiça à figura do diplomata luso Aristides de Sousa Mendes, um herói convertido em pária em seu país e pouco conhecido no resto do mundo que salvou 34.000 pessoas do nazismo concedendo-lhes vistos para fugir da França ocupada.

A história de Sousa Mendes (Carregal do Sal, 1885 - Lisboa, 1954) é muito menos popular que a de Oskar Schindler, em que pese que o diplomata - também conhecido como o "Schindler português"- resgatou a um número de pessoas 30 vezes maior a do empresário alemão levado ao cinema por Steven Spielberg.

Este "esquecimento histórico" se deveu à vontade dos próprios fugitivos do Holocausto de deixar para trás um traumático passado, mas também ao desprestígio e a defenestração que sofreu Sousa Mendes por parte do regime de Antônio de Oliveira Salazar, explicou hoje à EFE o diretor do filme, João Correa.

Enquanto que Schindler contratou em sua fábrica cerca de 1.100 judeus para ocultá-los das autoridades nazis, Sousa Mendes aproveitou seu cargo como cônsul português em Bordéus (França) para conceder 34.000 vistos - entre eles 10.000 judeus - a pessoas que fugiam das forças ocupantes.

Os sobreviventes que escaparam da França e seus descendentes "não queriam reviver o passado, senão olhar para o futuro", assinalou Correa, a quem contatou alguns deles para preparar o filme que hoje será projetado em Bruxelas.

Grande parte dos judeus que Sousa Mendes concedeu o visto emigraram para os Estados Unidos, entre eles uma parte importante terminou se instalando em Israel. Em 1966, este país lhe concedeu o título de "Justo entre as Nações" em reconhecimento do seu trabalho.

A heroica história de Sousa Mendes, contudo, não teve um final feliz. O diplomata foi privado de seu cargo e de sua pensão, caiu na miséria e morreu em um hospital franciscano de Lisboa, viúvo e com vários de seus filhos tendo emigrado para os EUA.

"É o preço que teve que pagar por desobedecer ao regime de Salazar", disse a EFE o realizador do filme, que acrescentou que "todavia há gente em Portugal hoje em dia que o critica por não ter sido fiel a seu país".

Entre seus críticos também há aqueles que o acusam de se "aproveitar" dos judeus e "lucrar" com a venda de vistos, algo que Correa qualifica de "absurdo", já que nesse caso Sousa Mendes "devia ter ficado milionário, quando na realidade morreu na pobreza".

O diplomata, cristão praticante e de formação humanista, descumpriu a norma portuguesa que impedia a entrada no país de "pessoas indesejáveis" ao conceder cerca de 34 mil vistos a judeus, refugiados apátridas e opositores do nazismo, todos eles em um prazo de somente dez dias em pleno avanço do III Reich.

Mas "O Cônsul de Bordéus" "não é um filme sobre os anos quarenta, senão sobre a memória e sobre o agora", afirmou Correa.

A narrativa começa em 2008 num povoado do norte de Portugal muito próximo à Galícia, quando uma jovem jornalista portuguesa entrevista um ancião diretor de orquestra chamado Francisco de Almeida.

A jornalista descobre que o músico de sobrenome português nasceu na realidade na Polônia e trocou de nome para escapar da invasão nazi em 1940 indo para a Venezuela, via Bordéus e com ajuda do cônsul português.

O espectador é então trasladado à época da II Guerra Mundial e entra na história de Sousa Mendes "através dos olhos de um jovem judeu de 14 anos" (a quem se converteria mais tarde em Francisco de Almeida), relatou o diretor.

O filme, financiado pelo Ministério espanhol de Educação e Cultura no marco do programa Ibermedia, já pode ser visto nos festivais franceses de Cannes e de Biarritz e fora projetado também em todos os museus do Holocausto do mundo, segundo anunciou Correa.

O diretor apresentará amanhã o filme em Bruxelas em uma projeção organizada pelas embaixadas de Espanha e Portugal na capital belga.

"O Cônsul de Bordéus" estreará no próximo dia 8 de novembro em Portugal, e os produtores estão negociando atualmente sua distribuição na Espanha, França e Brasil, entre outros países.

20 de setembro de 2012 • 09:35 • atualizado a las 11:11

Fonte: EFE/Terra
http://entretenimiento.terra.com.co/cine/una-pelicula-hace-justicia-al-schindler-portugues,34250fad4c3e9310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Un filme hace justicia al «Schindler portugués», que salvó a 34.000 personas (ABC)

*Observação: em português o nome da cidade Bordeaux (em francês) na França é Bordéus, o uso da palavra em francês como se fosse a grafia certa em português não é correto. Depois de publicar esta matéria no dia 20.09.2012 traduzida de uma matéria em espanhol apareceu uma matéria traduzida em português muito parecida com o nome da cidade com a grafia em francês e não em português.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Neonazi capturado em Portugal é extraditado para a Alemanha para cumprir pena na prisão

Da The Associated Press 19 de Setembro, 2012 9:02 AM

Neonazi Gerhard Ittner
BERLIM - Promotores da Bavária afirmaram que um neonazi alemão, que passou sete anos foragido até ser capturado em Portugal, foi extraditado para a Alemanha para cumprir a sentença de prisão.

O promotor do Ministério Público de Nuremberg-Fuerth disse quarta-feira que Gerhard Ittner, de 54 anos, foi levado para a Alemanha na terça-feira onde começará a cumprir sua pena de 33 meses de prisão por calúnia, ódio racial e outros crimes.

Ittner foi condenado em 2005, mas fugiu antes que pudesse ser preso. Foi capturado pelas autoridades portuguesas em abril e tem estado sob custódia desde então.

Oficiais da Bavária disseram que o membro do agora morto Partido da União do Povo Alemão era um conhecido negador do Holocausto que usava a internet para espalhar propaganda de extrema-direita entre 2002 e 2004.

Fonte: AP/Calgary Herald
http://www.calgaryherald.com/news/NeoNazi+captured+Portugal+extradited+Germany+serve+prison+term/7265700/story.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Sieben Jahre auf der Flucht: Neonazi Ittner gefasst (Nordbayern.de, Alemanha)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Neonazis mudam sua estratégia na Alemanha com medo de banimento do NPD

Neonazis mudam sua estratégia na Alemanha
Por Frank Jordans

Enquanto o governo busca declará-lo ilegal, o Partido Nacional Democrático baixa o tom de sua mensagem para atrair eleitores de centro. Vários membros renunciariam do grupo.

Em um comício do maior partido de ultradireita da Alemanha, os skinheads (carecas) levantam punhos em meio a cantos nacionalistas, postam camisetas com palavras de ordem provocadoras e ocultam suas tatuagens neonazis ilegais devido ao fato da polícia estar a espreita. Contudo, o líder do grupo insiste que está levando seu Partido Nacional Democrático pelo caminho das principais correntes políticas, onde seus integrantes seriam bem visíveis.

"Meu objetivo é fazer do PND (NPD) um partido baseado firmemente no presente e que olhe para o futuro", afirmou Holger Apfel em uma entrevista para a The Associated Press durante o evento. E rompeu um tabu da extrema-direita ao reconhecer que a história da Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial incluía "crimes".

Apfel tem razões táticas para baixar o tom de sua mensagem, pois as autoridades pensam em proibir o partido. Contudo, sua intenção de apelar ao centro do espectro político provocou ira no pequeno mas arraigado movimento de ultradireita do país, no que muitos se negam a reconhecer que a Alemanha sob o nazismo - ou nacional-socialismo - foi responsável pelo massacre de seis milhões de judeus.

Alguns membros do PND se retiraram do partido e outros ameaçam fazer a mesma coisa. Não obstante, e apesar de suas palavras de mudança, não é necessário muito tempo para que Apfel mostre seus próprios lampejos de xenofobia. "Nós temos que assegurar que a Alemanha volte a ser o país dos alemães. Vemos o perigo crescente de que a base biológica de nossa gente se reduzirá devido ao fato haver uma mistura (interracial) cada vez maior", sustentou.

A decisão do governo de lançar uma proibição ao PND é feita depois da revelação em novembro de que uma pequena célula neonazi matou em 7 anos a nove imigrantes e uma policial. As autoridades não puderam demonstrar como operava com o apoio direto do PND, ainda que funcionários do partido tenham se relacionado com os três membros principais.

Angela Merkel considera que o PND é "antidemocrático, xenófobo, antissemita e portanto também uma ameaça à Constituição", disse Steffen Seibert a jornalistas, portavoz da chanceler alemã. Contudo, um intento prévio de declará-lo ilegal foi rechaçado pela corte suprema do país em 2003, e as autoridades estudam o tema com cuidado antes de se decidir em fazer uma nova iniciativa a esse respeito.

Fonte: AP
http://america.infobae.com/notas/57509-Neonazis-cambian-su-estrategia-en-Alemania
Tradução: Roberto Lucena

Mais:
La ultraderecha alemana cambia de estrategia (Terra/AP)

domingo, 16 de setembro de 2012

Enquanto isso... no "Inconvenient History"...

... nossos enfurecidos amigos Mattogno, Graf e Kues (sigla MGK) anunciaram outro atraso em sua resposta à crítica do HC.

Eu gostei especialmente da parte sobre o "kamarad" que não consegue traduzir o texto de Mattogno do italiano para o inglês. :-)

Thomas Kuesdiz estar "revisando importante material sobre as novas pesquisas arqueológicas em Sobibor". Estas devem ser as pesquisas conduzidas por Yoram Haimi, que foram divulgadas na imprensa nos últimos dias (ver artigos sobre isso nos sites da CBS News, Daily Mail e Haaretz, entre outros).

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2012/08/meanwhile-on-inconvenient-history.html
Texto: Roberto Muehlenkamp
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Brad Pitt produz e protagoniza filme em torno da aliança da IBM e os nazis (baseado no livro IBM e o Holocausto)

Brad Pitt produz e protagoniza filme em torno da aliança da IBM e os nazis
Publicado por Jorge Pereira

Brad Pitt vai produzir e (provavelmente protagonizar) a adaptação ao cinema de "IBM and the Holocaust" (IBM e o Holocausto), um livro baseado em fatos reais assinado por Edwin Black.

Na obra vemos como a IBM se uniu aos nazis em 1933, contribuindo para que estes conseguissem identificar e catalogar, na década de 1930 e 1940, os judeus. Claro está que nesta época ainda não existiam os computadores, mas a IBM desenvolveu um sistema – Hollerith – de cartões perfurados adaptáveis a cada cliente. Foi com eles que Hitler foi capaz de automatizar a perseguição aos judeus, a rápida segregação e mesmo o extermínio.

Desconhece-se para já quando começam as filmagens da obra, mas sabe-se que o projeto é prioritário e que já se procura um realizador com créditos firmados.

Fonte: C7nema (Portugal)
http://www.c7nema.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11023:brad-pitt-produz-e-protagoniza-filme-em-torno-da-alianca-da-ibm-e-os-nazis&catid=2:cinema-americano&Itemid=2

Ver mais:
Brad Pitt, productor y posible estrella de “IBM and the Holocaust”
Brad Pitt suena para 'IBM and the Holocaust', una película con nazis y... ¿Ordenadores?
Brad Pitt quiere volver a la Segunda Guerra Mundial (Fotogramas.es Espanha)
Brad Pitt Signs On for "IBM and the Holocaust" (Worst Previews, EUA)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Estônia ri dos crimes dos nazistas

Artiom Kobzev. 6.09.2012, 19:24

Auschwitz-Birkenau. Alemanha Nazismo
RIA novosti
Parece que a Estônia consolida a fama de Estado onde os crimes dos nazistas são motivo de piadas. Mal cessou o escândalo com o uso da foto dos portões do campo de concentração de Auschwitz, no comercial de firma de gás, quando veio a tona novo fato. Desta vez em jornal local surgiu um anuncio de comprimidos para emagrecer, impresso tendo por fundo uma fotografia de prisioneiros de Buchenwald.

O primeiro que chamou a atenção para o anúncio provocador foi o vice-prefeito de Tallin, Mikhail Kilvart. Em sua página na rede social Facebook ele publicou a fotografia da página de jornal com o anúncio impresso sobre a imagem dos prisioneiros famintos do campo de concentração. A foto no jornal estava acompanhada da inscrição: “Os comprimidos do doutor Mengele fazem milagres”. E embaixo da foto mais um lema: “Em Buchenwald não havia nenhum gordo”. Tudo isto causou a indignação de Kilvart. “Como é possível brincar com o extermínio em massa de pessoas” – escreveu ele no Facebook.

A pergunta: por que na Estônia são possíveis tais publicações, deve ser endereçada às autoridades da república – diz o diretor da Fundação “Memória Histórica”, Alexander Diukov.

“Aqui tem lugar uma incompreensão exata do que foi o nazismo, o que foi Auschwitz e quem foi o doutor Mengele. Na verdade isto não é surpreendente, porque é difícil esperar conhecimentos sobre o nazismo de habitantes de um país em que são considerados heróis os legionários das SS. Isto é, aqueles que combateram ao lado dos nazistas. Nós vemos que na Estônia o nazismo não foi condenado como tal”.

Poder-se-ia prevenir semelhantes escândalos se fossem introduzidas normas jurídicas correspondentes. Em uma série de países da Europa vigoram leis voltadas contra as pessoas que negam, justificam ou diminuem os crimes dos nazistas. É verdade que nenhuma lei ajuda se as pessoas não tiverem educação elementar – lamenta o advogado israelense Eli Hervitz.

“É impossível com métodos jurídicos incutir nas pessoas senso de humor e a compreensão do que não se relaciona, e não pode se relacionar com nenhum senso de humor. A jurisprudência é parecida com um machado, mas existem muitos problemas que devem ser resolvidos com bisturi – com a educação. Como obrigar as companhias a não brincar desse modo. Em qualquer país que se preze não é preciso decretar leis para isto. Qualquer companhia que, na América, Israel, ou na Alemanha, se permitisse tal campanha publicitária, simplesmente estaria se condenando à morte econômica.”

“Os comprimidos do doutor Mengele” não é o primeiro anúncio estoniano que explora o tema do Holocausto. Há umas duas semanas uma companhia que vende equipamentos de gás alemães, publicou em seu site uma foto dos portões do campo de concentração de Auschwitz. Como explicou o diretor executivo da firma, o aquecimento a gás é associado com o Holocausto. “Nós ouvimos com frequência a anedota de que Hitler suicidou-se porque recebeu a conta de gás” – acrescentou ele.

Deve-se assinalar que os publicitários também de outros países às vezes usam imagens relacionadas com o nazismo. Mas estas são mostradas exclusivamente como algo terrível. E somente as firmas estonianas recorrem a elas para promover suas mercadorias e serviços.

Fonte: Voz da Rússia
http://portuguese.ruvr.ru/2012_09_06/87438097/

Ler mais:
Estonia: fotos de prisioneros de Buchenwald para promocionar píldoras para adelgazar (RT)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Bruxelas reconheceu o seu papel no Holocausto e na deportação de milhares de judeus

A cidade de Bruxelas reconheceu, este domingo, oficialmente o seu papel de cumplicidade na deportação de milhares de judeus para campos de concentração nazis durante a Segunda Guerra Mundial.

Numa cerimónia onde participou o embaixador de Israel na Bélgica e o vice-primeiro-ministro, Joelle Milquet, o presidente do município de Bruxelas Freddy Thielemans reconheceu o papel chave que o registo de judeus pela cidade teve nos raides que levaram ao envio de milhares de pessoas para os campos de concentração nazis.

"Sem o registo de judeus, as progressivas detenções e o raide de setembro de 1942 nunca teria o mesmo impacto em Bruxelas", afirmou Freddy Thielemans, citado pela agência de notícias belga.

Durante este conturbado período da história, à volta de 5.640 pessoas foram registadas na cidade como sendo judeus.

No entanto, o líder da cidade também invocou um dos seus antecessores no cargo, Jules Coelst, que em 1942 recusou envolver a cidade nos raides da polícia e distribuir as estrelas de David amarelas que os judeus eram obrigados a usar como identificação.

Um estudo de uma comissão pedido pelo Estado belga e divulgado em 2007 concluiu que as autoridades belgas cederam em 1940 a uma exigência do regime nazi de Adolf Hitler de registarem os nomes da população judaica.

Em 1942, várias cidades em todo o país, com exceção de Bruxelas e Liége começaram a distribuir as estrelas de David usadas para identificar a população judaica.

Dos 56 mil judeus que se estimava viverem na Bélgica no início da guerra, cerca de 25 mil foram deportados para Auschwitz. Apenas 1.200 sobreviveram.

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=2748191

Ver mais:
Bruxelas admite cumplicidade no Holocausto (Abola.pt)

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