sábado, 22 de fevereiro de 2014

A psiquiatria de Franco. A mulher, intermediário entre criança e animal

Mulher, entre criança e animal
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera,
psiquiatra franquista
As mulheres marxistas também foram objeto de estudo. Vallejo-Nágera e Eduardo M. Martínez, diretor da Clínica Psiquiátrica de Málaga e diretor da prisão desta cidade, analisaram 50 presas de guerra. O método foi similar ao empregado com os brigadistas; mas com uma exceção: para os homens foi realizado um estudo antropomórfico, mas "no sexo feminino", escreve Vallejo e Martínez, "carece de finalidade pela impureza dos contornos". O conceito que ambos professores tinham sobre a mulher é perfeitamente expresso em seus textos.

Para justificar o alto grau de participação feminina nas fileiras da República, recordam sua "debilidade mental" e asseguram que "como o psiquismo feminino tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", quando se rompem os freios sociais que contém a mulher "despertando-se no sexo feminino o instinto da crueldade e ultrapassa todas as possibilidades imaginadas, precisamente por lhes faltar inibições inteligentes e lógicas".

Em busca do 'gene vermelho'

Mas não só isso. Ambos os professores estavam convencidos de que "nas revoltas políticas" as mulheres têm oportunidade "de satisfazer seus apetites sexuais latentes". A sexualidade das presas é estudada com verdadeiro interesse.

Destacam sua libertinagem, - advertem que foram sinceras ao se pronunciar nos interrogatórios, salvo nas "infidelidades conjugais que nenhuma confessou" - e oferecem tabelas sobre virgindade e desfloração e sobre as perversões sexuais das presas. Mas neste último aspecto dizem que "são raras as marxistas malaguenhas (de Málaga), pois somente três delas conhecem toda classe de perversões sexuais". "O amor lésbico tampouco é muito frequente", escrevem, "já que só seis pessoas (das 50), uma delas virgem, mostrou tendência deste tipo".

Os professores concluem que a mulher quando se lança à política "não o faz arrastada por suas ideias, senão por seus sentimentos que alcançam proporções imoderadas, inclusive patológicas, devido à irritabilidade da personalidade feminina". E sublinham que a crueldade feminina "não fica satisfeita com a execução do crime, senão que aumenta durante sua realização".

Somente três presas, das estudadas, segundo ambos doutores, apresentava uma inteligência superior. E seis, boa. O resto oferecia inteligência média ou inferior. E duas eram débeis mentais, segundo o estudo. A conclusão dos autores era de que o marxismo espanhol se nutria das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Fonte: El País (Espanha)
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969221_850215.html
Tradução: Roberto Lucena
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Este texto estava em destaque como link no texto maior "Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo Nágera", sobre um psiquiatra fascista espanhol. Quem quiser ler, segue abaixo:
http://holocausto-doc.blogspot.com/2014/02/em-busca-do-gene-vermelho-ciencia-fascista-vallejo-nagera-franquismo.html

Pra minha surpresa, a família desse psiquiatra fascista, Vallejo Nágera, ainda tem destaque na Espanha.

Ambos textos são de 1996 do jornal El País (Espanha), sobre bizarrices/aberrações da "ciência" (médica) do franquismo. O termo bizarro é por minha conta pois não há como qualificar isso de outra coisa. Percebe-se o quanto os fascistas espanhóis contribuíram para o progresso da ciência (conteúdo obviamente irônico) com sua misoginia (ódio ao sexo feminino) provavelmente oriunda de cultura religiosa.

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