domingo, 18 de maio de 2014

As visões geopolíticas de Germar Rudolf e sua "Arábia unificada"

Pra não comentar e espichar o outro post "Os verdadeiros sentimentos de Germar Rudolf sobre os judeus", vou colocar os comentários às afirmações esdrúxulas dele neste post, por partes. Seguem abaixo os comentários. Mas deixarei aqui o link do post sobre o que penso sobre alguns conflitos do Oriente Médio e a própria região, pra evitar que aquele pessoal fissurado em Oriente Médio venha encher o saco porque idealizam e idolatram algumas países e regiões do planeta (este comentário é totalmente direcionado a brasileiros mesmo).

Primeiro trecho:
Se o Holocausto é visto como uma coleção única de mentiras, então o único pilar de sustentação que legitima o Judaísmo Internacional entrará em colapso.
Aqui ele confirma suas crenças em textos antissemitas como os Protocolos dos Sábios de Sião que traz essa versão de "poder judaico global" e é uma das bases do antissemitismo moderno. 90% dos "revis" (pra não dizer 100%) acreditam nisso e é uma das razões pra defesa fanática deles do negacionismo como forma de atacar judeus, que na visão dele são inimigos mortais.

Segundo trecho:
O destaque da religião substituta irá se desintegrar. A possibilidade de extorquir mais bilhões da Alemanha por conta de sua suposta obrigação também entrará em colapso.
Rudolf diz que judeus extorquem a Alemanha por conta de indenizações feitas por conta do Holocausto. O Rudolf não leva em conta algumas questões antes de fazer esta afirmação. Dinheiro algum paga a vida de quem a perdeu, e as indenizações são aquém do que uma pessoa poderia ganhar se tivesse ficado viva. Inclusive acho que se uma pessoa não precisa desse dinheiro deveria recusar isso (vai da cabeça de cada um) pois é uma forma pra lá de questionável de "compensar" o extermínio provocado por um país, mas há gente que necessita e não irei condenar quem tenha aceito isso por necessidade.

Terceiro trecho:
A possibilidade de obrigar os Estados Unidos a salvar eternamente os judeus de novos holocaustos através de doações infinitas de dinheiro também entrará em colapso.
Rudolf entra na fase dos delírios. Rudolf, os EUA não são obrigados, você pelo visto tem uma visão "benevolente" da política imperialista do governo dos Estados Unidos como superpotência. Os EUA veem retorno nessa aliança com Israel que se aprofundou depois da guerra dos seis dias quando o governo dos EUA viu que teria retorno dando apoio aquele país levando em conta a polarização da guerra fria, a URSS passou a apoiar vários países árabes e os EUA como resposta fez seus aliados naquela região, incluindo a Arábia Saudita.

Só um trecho pra ilustrar a coisa (pra quem quiser criticar, quem afirma isso é o N. Finkelstein que é adorado por "revis" mesmo não sendo ele, Finkelstein, "revi"), esse texto não é do Finkelstein mas está no site dele:

“Chronicle of a Suicide Foretold: The Case of Israel”
After Algeria became independent in 1962, France lost interest in the Israeli connection, which now interfered with its attempts to renew closer relations with the three now independent North African states. It was at this point that the United States and Israel turned to each other to forge close links. In 1967, war broke out again between Egypt and Israel, and other Arab states joined Egypt. In this so-called Six Day War, the United States for the first time gave military weapons to Israel.

The 1967 Israeli victory changed the basic situation in many respects. Israel had won the war handily, occupying all those parts of the British mandate of Palestine that it had occupied before, plus Egypt’s Sinai Peninsula and Syria’s Golan Heights. Juridically, there was now a state of Israel plus Israel’s occupied territories. Israel began a policy of establishing

Jewish settlements in the occupied territories.
Sim, os EUA fazem doações gigantes de dinheiro a Israel, algo contestável, mas só estou comentando esta parte porque alguém com malícia pode chegar e perguntar sobre isso e essa parte que ele disse existe de fato. Só pra deixar claro, eu não apoio a política externa israelense, só que não preciso usar argumento tosco como o que os "revis" usam pra criticar aquilo, fora o fato de que as motivações de crítica dos "revis" não são por questões humanitárias ou porque discordam da política belicista israelense (até porque os "revis" dão pitis de gozo com o Terceiro Reich que era belicista até o talo) e sim porque o alvo da crítica tem judeus no meio, o que pros "revis" é algo insuportável. O mundo "revi" gira em torno de judeus, um dos motivos que provam que não existe revisão histórica alguma por parte de negacionistas e sim panfletagem política, como já é sabido de muita gente.

Quarto trecho:
A simpatia mundial com os maiores mentirosos e vigaristas da história da humanidade também entrará em colapso.
Mais uma alucinação do Rudolf. Não vejo o mundo hoje sendo simpático com judeus por conta do Holocausto, quem afirma isso geralmente são os "revis" pra dramatizar a "causa" deles. Pode ter sido num passado remoto, no pós-segunda guerra principalmente em virtude do impacto da destruição causada, mas passados mais de 60 anos do evento, aquela empatia inicial já foi pro ralo há muito tempo, principalmente com o destaque que passou a ter as incursões de Israel na região do Oriente Médio, com destaque pro conflito no Líbano em 2006 e o ataque à Gaza em 2009.

De fato na guerra fria, com o mundo dividido e polarizado, não havia simpatia em relação a árabes ou ao lado palestino, palestinos em geral eram rotulados como terroristas por conta das ações dos grupos radicais e de Arafat, mas a percepção sobre o conflito mudou radicalmente com o fim da guerra fria e a partir de 1994 pra cá, principalmente com o uso global da internet e o destaque dado ao conflito que antes se resumia a um conflito regional apenas.

Quinto e último trecho:
A segunda tentativa da Europa de estabelecer um enclave duradouro na Palestina contra a vontade dos árabes, similar às cruzadas, também entrará em colapso. E, finalmente, a futura Arábia, será unificada e auto governada (por árabes) sem ocupantes judeus, norte-americanos ou europeus e potências coloniais, e se desenvolverá irresistivelmente. Isso explica porque os judeus e a mídia dominada por eles e políticos de todos os lugares defenderem essas mentiras (Holocausto) e reprimir os profetas de verdade com todos os meios possíveis.
Rudolf também gosta de anacronismos, usar termos do passado (cruzadas) pra criar figuras retóricas com o presente.

A Europa criou vários enclaves naquela região do planeta, Rudolf, pois teve colônia em vários países. Dá uma olhada:
Lista de ex-colônias europeias no Oriente Médio

Tudo isso ocorreu bem antes desse conflito Israel-Palestina, Rudolf.

Que tal mencionar o domínio francês no Líbano, ou na Argélia (essa no Norte da África)? E o poder britânico mandando na própria Palestina, Iraque etc? E o poder Otomano (turco) naquela região, Rudolf? Tudo isso antes de Israel existir.

Vou deixar uns links aqui caso alguém queira ler (estão em inglês, então coloquem no tradutor do Google):
1. Modern Period: the Rise of Colonial Interests in the Middle East
2. When the Middle East Became a Colony for Europe
3. The Legacy of The Ottoman Empire: Conflict, Colonies and Peter O’Toole
4. Century of Violence: What World War I Did to the Middle East (Spiegel)

Alguns livros:
1. The Great Syrian Revolt and the Rise of Arab Nationalism (Autor: Michael Provence)
2. Arab Nationalism, Oil, and the Political Economy of Dependency (Autor: Abbas Alnasrawi)
3. A peace to end all peace: the fall of the Ottoman Empire and the creation of the modern Middle East (Autor: David Fromkin)

Em português e espanhol (o livro em português se encontra no mercado brasileiro), irei colocar esse livro mas sei que o autor é visto como "problema" (embora seja referência) por alguns mais 'exaltados' porque o Bernard Lewis tem uma participação política nas últimas guerras no Oriente Médio. Explicarei isso (o motivo) num próximo post só sobre bibliografia do Oriente Médio:
1. O Oriente Médio: Do advento do cristianismo aos dias de hoje (Autor: Bernard Lewis)
2. Las identidades múltiples de Oriente Medio (Autor: Bernard Lewis)

Aqui eu deixo dois livros (ebook, PDF) sobre o tema:
1. Ottoman Modernity, Colonialism, and Insurgensy in the Interwar Arab East
Autor: Michael Provence

2. Confronting an Empire, Constructing a Nation: Arab Nationalists and Popular Politics in Mandate Palestine
Autor: Weldon C. Matthews

Só avisando que, se algum dos autores dos livros pedir que removam o link, terei que remover. Então quem quiser que baixe logo.
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Mas a parte mais engraçada e tosca da afirmação dele é a da "futura Arábia unificada", pelo visto Rudolf ignora fortemente as divisões sectárias daquela região e como todo fascista, acha que é possível "homogeneizar" tudo passando uma reta por cima de todos contra a contra a vontade de grupos rivais.

Rudolf, você já ouviu falar nisso? Guerra civil do Líbano. Tem um documentário interessante da Al Jazira sobre essa guerra civil libanesa.

E não preciso ir muito longe no tempo, há uma guerra em andamento no Oriente Médio agora mesmo, a guerra civil na Síria com grupos rivais se pegando: Guerra Civil na Síria.

Já viu a hostilidade entre Arábia Saudita e Irã por conta de divergências religiosas e políticas? O Irã não é árabe (é persa) e tem maioria xiita, a Arábia Saudita é o berço dos árabes de fato e tem maioria sunita. Já houve vários conflitos no Oriente Médio por sectarismo religioso, xiitas versus sunitas ao longo da história e conflitos contra outros grupos religiosos. Queria ver como seria essa unificação "interreligiosa" levando em conta a afirmação do Rudolf, seria um verdadeiro 'pinga sangue'.

E o certo seria chamar os povos de alguns países de "arabizados", pois a composição étnica deles (exemplo: Líbano) não é a mesma da Arábia Saudita. Houve uma colonização em vários países na expansão do Islã quando a religião ainda era restrita só a árabes, daí a origem do termo "arabizar". Eu costumo chamar aquela área do Mediterrâneo de "povos do mediterrâneo".

Queria entender como Rudolf acha que haverá uma "Arábia unificada" ignorando esses "detalhes" (rs), ignorando até a composição de cada país atual naquela região. Será que ele vai chegar na "Arábia" e gritar pros povos daquela região: Stop! In the name of love! Before you break my heart; Link2; Link3.

Depois aquele pessoal 'ultrassensível', cheio de mimimi, chega aqui "defendendo" revis" e acha que a gente "pega no pé" deles, o que não é verdade. Vejam o festival de sandices acima (distorções e mentiras em todo o comentário dele) e isso é só um pequeno trecho de asneiras que o cara escreveu.

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